Artigo escrito pelo Dr. Gustavo Dáfico Bernardes, capitão QOSPM, médico endocrinologista do Hospital do Policial Militar de Goiás, publicado no dia 14 de novembro de 2014, no Jornal Diário da Manhã – Caderno “Opinião Pública”, pág. 07.

Eu tenho diabetes?

– E aí doutor? Eu tenho diabetes?

– Seus exames confirmam que você tem diabetes!

Ouvir estas palavras no consultório médico está se tornando cada vez mais frequente. Na maioria das pessoas causa arrepios, traduzindo como fosse o fim… Ou o começo do fim. Calma!

Em muitas pessoas ainda está enraizado a noção de que diabetes é uma sentença de morte, pior ainda, morte complicada, sofrida, por picadas, amputações, cegueira, tratamentos cruentos, dores crônicas, enfim como fosse uma morte sob tortura. Esta antiga noção, baseia na ideia de que pouco poderia ser feito, submeter-se a uma dieta muito restritiva e poucos medicamentos com muitos efeitos colaterais. Ainda bem que o progresso científico existe e este quadro está mudando.

Hoje o diabético tem mais acesso a um diagnóstico precoce, que pode ser feito por qualquer médico clínico, tem orientação nutricional embasada em ciência e a excelentes medicamentos que unidos favorecem bom controle e deste modo, retardam em muito o aparecimento de complicações. Hoje vários profissionais de saúde, imprescindíveis neste acompanhamento como o médico, o nutricionista, o psicólogo, o fisioterapeuta e o assistente social lidam com o diabético. Nesta composição há inegável sinergismo a favor de um bom controle.

Que a prevalência do diabetes mellitus está aumentando, ninguém duvida. Vários estudos confirmam esta tendência. Um estudo (Ministério da Saúde. Vigitel 2011) feito em 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal e constatou que 5,6% da população diz ter a doença. O levantamento apontou também que o diabetes aumenta de acordo com a idade da população: 21,6% dos brasileiros com mais de 65 anos possuem a doença, um índice bem maior do que entre as pessoas na faixa etária entre 18 e 24, onde apenas 0,6% são pacientes com diabetes. Outro estudo (Harris MI. Diabetes  1987) confirmou que para cada diabético recém diagnosticado há outro sem diagnóstico. Aí sim existe perigo.

O perigo é ter o problema que se chama diabetes e não saber que tem. Nesta fase com pouco ou nenhum sintoma em que há aumento da glicemia (taxa de açúcar no sangue), o indivíduo diabético que não sabe e consequentemente não se trata, tem risco elevado de desenvolver aterosclerose (placas de colesterol) nas artérias que irrigam o coração e cérebro. Assim tem risco aumentado (alto risco) para desenvolver doença cardiovascular e cerebrovascular com consequências gravíssimas como infarto do coração e do cérebro. Tem também o risco de apresentar lesões nos olhos (retinopatia), nos rins (nefropatia) e nos nervos das pernas (neuropatia) que depois de instalados comprometem sua qualidade de vida.

Como metade dos indivíduos diabéticos não sabem que tem a doença, investir no diagnóstico precoce (antes de ter manifestações clínicas) é fundamental. Na Polícia Militar do Estado de Goiás foi implantado o Centro de Saúde Integral do Policial Militar (CSIPM) onde no policial militar é avaliado seu estado clínico, físico, psicológico e nutricional. Todos os militares que foram submetidos a exames periódicos, em alguns poucos obteve o diagnóstico precoce do diabetes mellitus, mesmo naqueles sem sinais ou sintomas. Iniciou-se o acompanhamento multidisciplinar e desta forma favoreceu um tratamento satisfatório, minimizando as complicações e absenteísmo do diabetes.

Diante de tantos perigos, alertar e conscientizar a população para o problema, facilitar o diagnóstico e o tratamento é prioridade da Organização Mundial de Saúde (OMS), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU). Por isso a Federação Internacional de Diabetes (IDF) lidera uma campanha mundial para que as pessoas tenham consciência do que é o diabetes, dos riscos, de como prevenir, como ajudar, como lidar, enfim todo engajamento no sentido de nos tornarmos mais conscientes. O dia de 14 de novembro é lembrado como o dia mundial do diabetes. Tem como símbolo (ícone) da campanha um círculo azul, onde o círculo simboliza em várias culturas, a simplicidade, a vida, a terra, o retorno, a regeneração. O azul significa o céu, a paz, a união, sendo a mesma cor das Nações Unidas. Vamos entender e conscientizar sobre o diabetes. Se você não tem diabetes, alguém próximo de você tem!

(Gustavo Dáfico Bernardes, capitão QOSPM, médico endocrinologista do Hospital do Policial Militar de Goiás (HPM))

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